domingo, 16 de junho de 2013

ESTILÍSTICA

CONSUMO E CONSUMISMO


O que é Consumo? Nada mais comum do que ir a um supermercado para comprar produtos sem os quais não sobreviveríamos. Comida, roupa, móveis, alguns aparelhos domésticos, transporte, comunicação, entre outros, podem ser considerados bens essenciais para a sobrevivência humana. Sendo assim, pode-se chamar de "Consumo" o ato de usufruir de bens que nos são indispensáveis, os quais, por sua vez, denominamos "bens de consumo". Por outro lado, quando esses bens são consumidos de forma indiscriminada, exagerada, oferecendo muitas vezes riscos à existência, ou seja, quando não consumimos por questão de necessidade, o que temos é o fenômeno do "Consumismo". Logo, "Consumismo" não pode ser confundido com "Consumo" embora um esteja ligado ao outro.   

OUTRAS LEITURAS:

TEXTO I

Eu, Etiqueta
Carlos Drummond de Andrade 

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
[...]
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
[...]
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
[...]
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente. 

ANDRADE, Carlos Drummond. Corpo. Rio de Janeiro: Record, 1984.

No vídeo abaixo, é possível escutar o poema completo na voz de Paulo Autran:




TEXTO II


Estamos na época em que criar produtos já não basta: é preciso criar uma identidade ou uma cultura de marca por meio do marketing, do superinvestimento publicitário e da hipertrofia da comunicação. [...] O capitalismo de hiperconsumo caracteriza-se pela exigência de hipervisibilidade das marcas e, por isso, pela explosão dos orçamentos de comunicação causada pela intensificação da concorrência, pela semelhança dos produtos, pelos imperativos de rentabilidade rápida e elevada. Assim, passou-se da marca à hipermarca: esta se impõe quando o trabalho do marketing se sobrepõe ao da produção, quando o "branding" se põe à frente do produto, quando a dimensão do imaterial constrói mais a marca do que a fabricação material do produto, sendo esta frequentemente terceirizada ou transferida para países com mão de obra barata. Pois o que o hiperconsumidor compra em primeiro lugar é a marca, e com ela um suplemento de alma, de sonho e de identidade: num limite extremo, para o consumidor globalizado que importância tem o perfume desde que tenha a embriaguez de um frasco chanel?         

LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A cultura-mundo: respostas a uma sociedade desorientada. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 95.(Fragmento).   

HORA DE REFLETIR

1) Você se considera uma pessoa consumista? Exponha seu ponto de vista dando exemplos de como você se comporta na hora de consumir/adquirir um bem de consumo?

2) No texto I, o "eu lírico" fala de sua relação com os bens de consumo e, por consequência, das marcas por estes veiculadas.  Em sua opinião, essa relação se dá de maneira negativa ou positiva? Explique seu posicionamento. 

3) Na hora de consumir ou adquirir um produto, quais aspectos você leva em consideração? Você compra pensando na qualidade ou a marca do produto é mais importante? 

4) No texto II, fala-se no destaque que o mundo de hoje dá às marcas em função da  concorrência e necessidade de obter lucro rapidamente. Fala-se também em identidade, que são as características que tornam os seres diferentes uns dos outros. Você diria que no texto II a ideia de identidade também é discutida? Justifique. 

5) Você acha que uma dada marca pode refletir sua identidade ou a marca cria uma identidade que você não reconhece como sua?  


METÁFORA

 Conceituação:

Figura de estilo que possibilita a expressão de sentimentos, emoções e ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associação de semelhança implícita entre dois elementos.

MENDES, Paula. Métafora. Disponível em: http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=1571&Itemid=2. Acesso em: 31 de maio. 2013.

De maneira simplificada, pode-se compreender a metáfora como uma comparação abreviada, ou seja, da qual se retirou a expressão “como” ou similar. [...] Um exemplo de Camões: “Amor é fogo que arde sem se ver”.

GOLDSTEIN, Norma. Versos, Sons e Ritmos. São Paulo: Editora Ática, 2000. P. 64-5. 

[...] Trata-se de um processo que envolve termos de domínios conceptuais distintos, entre os quais promove uma assimilação mental. A eficiência do seu efeito de sentido está atrelada à intensidade dessa assimilação.

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2011. p. 485.


HORA DE REFLETIR

Discuta as questões abaixo com seus colegas:


1) Podemos considerar como denotativos textos em que as palavras são utilizadas levando em conta seu significado comum, do dia a dia, o que reflete um uso da língua centrado na fácil troca de ideias. Por outro lado, consideramos como conotativos textos em que a palavra perde seu significado comum, ganhando outros que, muitas vezes, podem servir a projetos artísticos como os encontrados na Literatura. Posto isto, em qual uso (denotativo ou conotativo) você enquadraria o poema de Drummond? Justifique.

2) Com base nas definições para metáfora que foram dadas logo acima, destaque do texto I trechos que podem ser considerados exemplos de metáfora.

3) Na hipótese de que tenham encontrado exemplos de metáfora, vocês diriam que eles tornam o poema muito mais significativo e carregado de afetividade ou isso poderia ser obtido com muito mais eficácia se, em vez de figuras de linguagem (metáforas), o poeta tivesse organizado o texto de maneira muito mais objetiva, usando as palavras em seu sentido comum? Justifique.

4) No texto II, o prefixo "Hiper" é usado recorrentemente. "Hiper" vem do grego e pode indicar algo que está em posição elevada ou além em termos de dimensão. Nota-se também o uso do prefixo "super" cujo sentido é similar ao prefixo "hiper". Agora que você sabe o que esses prefixos podem significar, faça uma lista com todas as palavras contendo esses prefixos.

5) No texto II, como dito antes, o papel das marcas na atualidade é discutido. Posto isto, a seguinte reflexão é proposta: é possível dizer que o autor organizou o texto empregando aleatoriamente as palavras da lista que você fez ou essas palavras, contendo esses prefixos, estão em harmonia com a questão levantada? Explique.

6)  Leia atentamente o fragmento do texto I a seguir:

Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente. 


Perceba que várias consoantes foram colocadas em destaque e que elas aparecem insistentemente ao longo do poema. A repetição de vogais em posições tão próximas (como no fragmento acima) é chamada de aliteração. A aliteração é uma figura de linguagem e saber por que esse recurso é utilizado pode contribuir para o entendimento do poema. Todas as consoantes destacadas são consideradas oclusivas e sugerem a ideia de violência, força, por conta da maneira explosiva como são articuladas. Teste você mesmo. Reproduza essas consoantes e você perceberá.  Por outro lado, nota-se que as consoantes nasais [m] e [n] também aparecem com frequência. Elas, por sua vez, podem expressar a ideia de suavidade, moleza e, até mesmo, inércia.

Sendo assim, é possível dizer que a aliteração das duas categorias (oclusivas e nasais) cria um efeito de oposição, uma categoria em relação à outra, ou reforça a ideia de que ambas se complementam?  E como  usar a aliteração dessa forma se liga à situação exposta pelo eu lírico do texto II?

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